
Giuseppe Penone
Svolgere la propria pelle (Desdobrar a própria pele), 1970
Cortesia do artista
Paradoxo e infra mince na obra de Giuseppe Penone
Doutoranda: Marina Câmara
Linha de Pesquisa: Artes Plásticas, Visuais e Interartes: Manifestações Artísticas e suas Perspectivas Históricas, Teóricas e Críticas
Orientador: Prof. Dr. Stéphane Huchet
O início da produção do escultor italiano Giuseppe Penone coincide com a transição da arte moderna para a contemporânea. Neste momento, o campo da escultura se contaminava por outras disciplinas artísticas e pelo próprio ambiente circunstante, configurando aquilo que Rosalind Krauss definiu como "esculturas da situação" que, por sua vez, diz sobre o campo recorrer sempre mais à contingência da experiência presente em detrimento do preceito de emanação de conhecimentos prévios, característico, finalmente, da lógica do monumento. Veremos, em nossa apresentação, o caráter paradoxal da produção de Penone: por um lado, o "empobrecimento" reivindicado pela arte povera – movimento ao qual Penone se filia – se refere à essa tendência ao privilégio da situação, ou seja, ao desnudamento do que é dado a priori e que leva irrefutavelmente à matéria, ao corpo. Por outro, em sua insistente pesquisa sobre a matéria, Penone se depara com algo de imaterial: os interstícios do mundo. Revela-se, assim, o caráter duchampiano da obra de Penone: se os interstícios do mundo coincidem com aquilo que Marcel Duchamp chamou de infra mince, a própria natureza, tão trabalhada por Penone possui, por sua vez, a característica de um ready made. Infra mince e ready made seriam, na obra de Penone, portanto, contrapontos à suposta pura materialidade dos corpos, já que ambos conceitos implicam a consciência de que a experiência estética se dá, não na matéria ou no objeto em si, mas no contato destes com o mundo.
Palavras-chave: Giuseppe Penone, Marcel Duchamp, sensível, corpo, imaterial